Encontrou o Amor em um dia de domingo. Ela trazia uma caixa de morangos e conversa ao pé de ouvido:
– Vem sempre por aqui?
– Não, só costumo passar aos saltos.
Ela saltava de prédio em prédio, de montanha para riacho, de abismo para o colchão. A habilidade de se deslocar misturada com a aptidão do silêncio.
– Raramente caminho.
– Devia usar mais os pés, disse-lhe o Amor.
– Tá, se assim diz.
O Amor mostrou que sentir a terra pelos dedões poderia trazer alívio, como misturar lama e unha poderia equilibrar o coração e como andar na ponta dos pés a faria lembrar de sonho antigo.
Quando foi embora na segunda-feira em uma moto azul índigo, ela estava com olhos marejados e só conseguiu balançar o queixo como um gesto de gratidão. O Amor acenou. Essa coisa de gente livre.