Amor

Publicado: junho 30, 2015 em Contos

Encontrou o Amor em um dia de domingo. Ela trazia uma caixa de morangos e conversa ao pé de ouvido:

– Vem sempre por aqui?

– Não, só costumo passar aos saltos.

Ela saltava de prédio em prédio, de montanha para riacho, de abismo para o colchão. A habilidade de se deslocar misturada com a aptidão do silêncio.

– Raramente caminho.

– Devia usar mais os pés, disse-lhe o Amor.

– Tá, se assim diz.

O Amor mostrou que sentir a terra pelos dedões poderia trazer alívio, como misturar lama e unha poderia equilibrar o coração e como andar na ponta dos pés a faria lembrar de sonho antigo.

Quando foi embora na segunda-feira em uma moto azul índigo, ela estava com olhos marejados e só conseguiu balançar o queixo como um gesto de gratidão. O Amor acenou. Essa coisa de gente livre.

Joysuke

Joysuke

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